*Por Amaury Cunha Carvalho - https://gazetaregional.com.br
Na área de Smart Cities, cerca de 100 cidades brasileiras já têm projetos inovadores em desenvolvimento, e destas, o Ranking Connected Smart Cities 2021 destaca 5 como as cidades mais inteligentes do País: São Paulo (SP), Florianópolis (SC), Curitiba (PR), Brasília (DF) e Vitória (ES). Algumas ações identificadas nestes centros urbanos que influíram para a classificação foram: existência do cadastro imobiliário informatizado, agendamento online de consulta na rede pública de saúde, presença de ciclovias estruturadas, semáforos inteligentes, bilhete eletrônico nos transportes públicos, aumento no número de empresas de tecnologia e economia criativa, sistema de iluminação inteligente e conexão banda larga disponível para 99% da população.
Entretanto, apesar de toda essa evolução, uma significativa dificuldade se destaca por conta do atual apagão da mão de obra no mercado de tecnologia, que impacta na evolução das cidades inteligentes no Brasil. Faltam candidatos aptos para ocupar as vagas de TI neste nicho. Uma pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) alertou que o déficit de profissionais de todo o ecossistema poderá chegar a 530 mil até 2025.
Ironicamente, a mesma pesquisa da Brasscom apontou que até 2025 serão criados 797 mil vagas para programadores e desenvolvedores, entre outras funções. A primeira leitura é exata: não faltam oportunidades, mas faltam pessoas capacitadas, a segunda, exige uma lupa mais apurada, uma vez que a compreensão reside nos reflexos trazidos pela pandemia. O home office entrou na rotina corporativa e a cultura dos nômades digitais, que podem trabalhar de qualquer lugar do mundo, ganha espaço nas relações trabalhistas e impacta ainda mais a concorrência por profissionais, que entra numa esfera global.
O resultado deste entendimento nos leva a crer na construção de um perfil de profissionais cada vez mais sem senso de pertencimento pela empresa, sem raiz fincada na cultura operacional diária. Em projetos de smart cities este ambiente remoto tira o calor de trocar ideias com maior fluidez. E consequentemente, na tomada de decisão mais rápida, por exemplo. Outro reflexo deste fenômeno é a materialização da lei da oferta e procura, e a matemática para isso é simples: com menos profissionais aptos, os mais tarimbados valorizam mais devido seus conhecimentos diferenciados. O que não está errado! O desafio de adequação das equipes de trabalho cabe às empresas de tecnologia em encontrar pessoas disponíveis no mercado.
Com o advento do 5G, a plenitude das cidades inteligentes ganha ainda mais força no avanço da telemedicina e no impulsionamento da transformação digital para locais mais afastados das metrópoles, como áreas rurais e fabris. Tudo isso trará ao nicho das smart cities novas funções, algumas até automatizadas, mas outras tendo o humano no centro da decisão.
Integrar-se a todo este cenário disruptivo levará às empresas a um novo patamar de observação, análise e adequação da política corporativa.
A ação prática estará na autocrítica de rever seus programas de valorização das pessoas com atualizações constantes por meio de programas de capacitação interna (como universidades corporativas); com remuneração e benefícios atraentes; e iniciativas que reforçam a cultura híbrida, marcada por idas quinzenais aos escritórios, mesclados com encontros remotos objetivando dosar as experiências interpessoais em ambientes diversificados. Assim, como diria Bauman, as empresas devem se adequar a uma nova “modernidade liquida”, em termos de fluidez e instabilidade das relações sociais, mas evoluídas em tecnologia.
Em épocas que muitas empresas esboçam seus planejamentos táticos para 2023 um deles será, com certeza, o olhar estratégico para valorizar as novas gerações que chegam no mercado de trabalho e, sobretudo, adequar-se as novas disciplinas trabalhistas. A transformação digital e seus impactos positivos agradecerão! O futuro é dinâmico e construído por pessoas dinâmicas.
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